sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Proudhon, Liberdade, Satã e The Ladies Repository (ó, minha nossa!)

Proudhon, Liberdade, Satã e The Ladies Repository (ó, minha nossa!)


Muito pouco da obra de 6 volumes de Proudhon, Justiça na Revolução e na Igreja, foi traduzida, mas uma passagem famosa/infame foi tratada em uma série de rendições em inglês. A Seção XLVII, que termina o Capítulo 5, "Função da Liberdade", que é em si o capítulo final do Oitavo Estudo, "Consciência e Liberdade" (que aparece em Justiça, Tomo III nas obras reunidas de Lacroix) contém uma passagem que começa "Vem, Satã, vem...", e que foi naturalmente conveniente para aqueles que queriam demonstrar que cara malvado esse socialista francês Proudhon era.


Há uma tradução realmente bastante adorável de parte da seção no The Ladies' Repository de agosto de 1858.


SATÃ AMIGADO. - Não é sempre que se fala uma palavra boa para o pai do mal. Burns, é verdade, escreveu um "Discurso ao Dião", no qual ele chegou à caridosa conclusão que mesmo o Velho Pedro Botelho poderia corrigir suas maneiras e salvar seu toucinho: "But fare ye weel, auld Nickie-ben, / O wad ye tak a thought an' men'! / Te aiblins might — I dinna ken — / Still hae a stake— / I'm wae to think upo' yon den, / Ev'n for your sake!". Mas ficou para o Monsieur Proudhon, o notável Socialista francês, audaciosamente abraçar a causa de Satã como um amigo! Em sua obra recente, que acabou de ser apreendida na França por processo judial, ele diz: "Vem, Satã, vem, tu o caluniado de padres e de reis! Deixe-me te abraçar, deixe-me apertar-te em meu seio! Há muito que hei te conhecido, e há muito que tu hás me conhecido! Tuas obras, ó abençoado do meu coração!, nem sempre são elas belas e boas; mas apenas elas dão um significado ao universo e o salvam do absurdo. O que seria do homem sem ti? Uma besta. Tu, apenas, animas e fecundas a labuta; tu enobreces a riqueza, tu escusas o poder, tu colocas um selo sobre a virtude! Esperes tu ainda, tu, o proscrito! Eu tenho a servir-te uma única caneta, mas ela vale milhões de bulletins".


De alguma forma, eu não acho que eu poderia lidar com "animas e fecundas" em minha própria tradução, mas tem um certo som nisso. Há algumas outras traduções, de vários períodos, a maioria das quais parece começar com o pé errado, ao traduzir "Viens, Satan, viens..." como apenas "vem, Satã", sem a adorável repetição, que parece crucial para uma passagem que é obviamente o finale do estudo, ou talvez a conclusão dos versos poéticos com os quais Proudhon de fato acabou o estudo.


Qual é o contexto disso tudo? Na verdade, isso se segue diretamente da última seção que eu postei aqui. Há uma tradução aproximada da seção inteira:


Ali está ela, essa liberdade revolucionária, amaldiçoada por tanto tempo porque não era entendida, porque sua chave era buscada em palavras em vez de em coisas; ali está ela, já que uma filosofia inspirada por ela, por si só, deveria, no fim das contas, fornecê-la. Ao se revelar para nós em sua essência, ela nos dá, junto com a razão de nossas instituições religiosas e políticas, o segredo de nosso destino.


Ó! Eu entendo, meu senhor, que você não gosta da liberdade, que você nunca gostou dela. A liberdade, que você não pode negar sem destruir a si mesmo, que você não pode afirmar sem ainda assim destruir a si mesmo, você a teme como a Esfinge temeu Édipo: ela veio, e o enigma da Igreja foi respondido; o cristianismo não é mais nada além de um episódio na mitologia da raça humana. A liberdade, simbolizada pela estória da Tentação, é seu Anticristo; a liberdade, para você, é o Diabo.


Vem, Satã, vem, caluniado por padres e reis! Deixe-me lhe abraçar, deixe-me apertá-lo em meu peito! Eu lhe conheço há muito tempo, e você me conhece também. Sua obras, ó abençoado do meu coração, nem sempre são belas ou boas; mas apenas você dá sentido ao universo e o impede de ser absurdo. O que seria da justiça sem você? Um instinto. Da razão? Uma rotina. Do homem? Uma besta. Apenas você incita o trabalho e o torna fértil; você enobrece a riqueza, serve como uma desculpa para a autoridade, coloca o selo sobre a virtude. Tenha esperança ainda, proscrito! Eu tenho a seu serviço apenas uma caneta, mas ela vale milhões de votos. E eu desejo apenas pedir, quando os dias cantados pelo poeta retornarem:


Você cruzou ruínas góticas; Nossos defensores pressionavam em seus calcanhares; / Flores choveram, e virgens modestas / Misturaram suas canções com o hino de guerra. / Todos se agitaram e se armaram para a defesa; / Todos estavam orgulhosos, sobretudo os pobres. / Ah! Dê-me de volta os dias de minha infância, / Deusa da Liberdade!"

E a quem o hino de fato se destina? Satã? Apenas se você aceita aquela visão, associada com algumas poucas figuras menores como, digamos, Milton e Blake, que personificam o princípio ativo como o diabo. A invocação de Proudhon é para a Liberdade. Mas você ainda tem que entregar isso para os tradutores do item no The Ladies' Repository, penso eu.

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